terça-feira, 5 de março de 2013

Lucro dos bancos caiu após 15 anos de crescimento ininterrupto

Os setores financeiros nacionais ainda não engoliram a estratégia do governo brasileiro, adotada no ano passado, de reduzir os juros. Nas últimas semanas, o tema tem voltado a ganhar força nos editoriais e comentários de "economistas", devidamente recrutados a partir da lista de contatos dos banqueiros, que dão sua generosa contribuição comercial às grandes corporações de mídia do país.

Na revista Época da semana passada, pertencente à Editora Globo, foi lançada a seguinte indagação ao investidor Mark Mobius: "Com a queda dos juros, o Brasil perdeu o charme?", referindo-se à redução do volume de capital investido pelos setores rentistas no mercado financeiro brasileiro. Atualmente, a taxa referencial, a SELIC, está em 7,25%, índice, portanto, muito inferior ao pernicioso deslocamento de recurso público representado pelos 25% no último ano de gestão de FHC - mas, ainda assim, muito elevado.

No último dia 1º de março, o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setúbal, não participou da 40ª Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, fórum que reúne empresários, lideranças sociais e governo (saiba mais), do qual é membro desde a sua instalação em 2003. Dias antes, o banqueiro concedera entrevista ao Financial Times criticando, dentre outros, a política econômica que empurrou para baixo as taxas de juros.

Uma situação nova para o presidente do banco que lucrou, em 2011, 10,940 bilhões de reais, registrando a maior arrecadação líquida do segmento na história do Brasil. Nesse mesmo ano, o corte de mais de 3 bilhões de reais no orçamento da educação, questionado pela UNE e demais entidades sindicais, não ganhou a mesma repercussão.

A crítica de Setúbal à política econômica brasileira não veio acompanhada dos números do setor financeiro nacional, divulgados nos últimos dias, que demonstram que o lucro dos bancos, após 15 anos de ininterrupto crescimento, caiu pela primeira vez. Dentre as instituições privadas, foi exatamente o Itaú o que recebeu o maior baque, confirmando o dito popular de que quanto maior o voo, maior a queda. Entre 2011 e 2012, a arrecadação sofreu uma redução de -7,18%.

Se o Brasil deixará de ser um "pernil com batatas", nas palavras de Delfim Netto, o tempo dirá, mas está claro que as políticas públicas que produziam ganhos para todos os segmentos econômicos e sociais não é mais possível e que o país precisa construir opções que continuem a favorecer a base da pirâmide. O desafio de erradicar a miséria e reduzir as nossas latentes desigualdades sociais pede uma nação que insista na superação do projeto que só enxergava 1/3 do Brasil, à revelia dos outros dois terços.

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