A
miséria e a ausência de perspectivas para solução da seca expõem de
maneira dramática o cenário do sertão nordestino, descrito por José Lins
do Rêgo em "Os Cangaceiros". Nesse livro, sequência final do chamado
"Ciclo do Cangaço" do qual faz parte também, precedendo-o, "Pedra
Bonita", o autor aborda com detalhes o misticismo messiânico e a
autoridade do poder econômico, superior à própria justiça.
A história se divide em duas partes: a primeira, denominada "Mãe dos Cangaceiros", e a segunda "Os Cangaceiros" e se desenvolve com base na trajetória de uma família em que dois dos três filhos se envolvem no cangaço, à reprimenda da mãe. Bentinho (Antônio Bento), o caçula, que fora deixado aos cuidados do seu tio, Padre Amâncio, será o único a não padecer do mesmo destino dos irmãos.
A história se divide em duas partes: a primeira, denominada "Mãe dos Cangaceiros", e a segunda "Os Cangaceiros" e se desenvolve com base na trajetória de uma família em que dois dos três filhos se envolvem no cangaço, à reprimenda da mãe. Bentinho (Antônio Bento), o caçula, que fora deixado aos cuidados do seu tio, Padre Amâncio, será o único a não padecer do mesmo destino dos irmãos.
Aparício, o mais velho, carregará sobre si o mito do grande cangaceiro, com toda a valentia, coragem e disposição para enfrentar até os mais poderosos interesses econômicos em nome dos seus. Será parte do imaginário do povo sertanejo - composto pelas histórias de bravura descritas pela boca miúda e por cantadores, que não deixariam de valorizar e fantasiar os feitos dos confrontos entre os cangaceiros e as volantes policiais. Já Bentinho, elemento central ao desenvolvimento da narrativa, viverá o dilema entre casar-se e construir uma vida comum, e o fato de ser irmão de Aparício, em um tempo em que a crueldade policial e o envolvimento de um membro da família com o cangaço marcavam profundamente os demais.
Não há uma idealização heroica dos cangaceiros, mas uma abordagem em que certos elementos de brutalidade e de violência cometidas contra mulheres, violentadas para saciar o desejo de vingança contra maridos, pais e irmãos, tornavam vítimas famílias inteiras para fazer valer uma honra maculada. De um lado a outro, seja pelas ações dos cangaceiros, ou da polícia, emerge o sentimento de impotência e de descrédito com a justiça por parte da maioria da população, afetada, em maior ou menor grau, independentemente de sua relação direta com tais atores.
Como em suas demais obras, chama a atenção a maneira como José Lins do Rêgo descreve, com riqueza de detalhes, contornos e vibrações, o cenário nordestino. É possível enxergá-lo e senti-lo ao longo da leitura. Foi o autor, para além de um grande romancista, alguém que soube interpretar a região em um período em que os obstáculos de mobilidade entre pessoas pelo Brasil dificultava o conhecimento sobre a diversidade nacional. Seus livros contribuíram para levar o Nordeste e seus problemas sociais ao restante do país.
O cangaço entrará em crise e perderá sua força social ainda no primeiro governo de Getúlio Vargas, a partir da decisão do presidente de eliminar todo e qualquer foco de desordem no território nacional. O último grupo de cangaceiros famosos foi o liderado por Corisco, assassinado em 25 de maio de 1940.
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